A Semana Económica: Reservas Internacionais, Crescimento do PIB, Pressões Inflacionárias e Riscos Políticos
A semana económica foi marcada por actualizações significativas em vários indicadores macroeconómicos de Moçambique, incluindo a evolução das reservas internacionais, o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), a descida das taxas de juro por parte do Banco de Moçambique, as perspectivas de inflação e os riscos associados à instabilidade política que afecta o País desde as eleições de Outubro
Escrita Por: Administração |
Publicado: 9 months ago |
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Categoria: Economia, Finanças e Negócio.
Reservas Internacionais em Níveis Confortáveis
O Banco de Moçambique (BdM) anunciou que, em Outubro, as Reservas Internacionais Líquidas (RIL) situaram-se em 3,7 mil milhões de dólares (cerca de 236,2 mil milhões de meticais), valor suficiente para cobrir cinco meses de importações, excluindo os grandes projectos, e 3,2 meses de importações totais.
Durante o 49.º Conselho Consultivo do BdM, o governador Rogério Zandamela destacou que o actual nível de reservas é reflexo de uma gestão prudente e assegura o funcionamento regular da economia, mesmo face aos desafios económicos e sociais que o País enfrenta. Zandamela reafirmou o compromisso de não utilizar as reservas de forma imprudente. “Não vamos ‘queimar’ reservas. Elas continuam ali para permitir o funcionamento normal do nosso país e das nossas instituições”, declarou.
PIB em Crescimento Impulsionado pelo Sector Primário
O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que o PIB de Moçambique cresceu 3,68% no terceiro trimestre de 2024, impulsionado sobretudo pelo sector primário, que registou uma expansão de 6,4%. Dentro deste sector, a indústria extractiva destacou-se com um crescimento de 13,62%, enquanto a agricultura apresentou um incremento mais modesto de 2,23%.
Com este desempenho, o crescimento acumulado do PIB até Setembro situou-se em 3,80%, e as projecções anuais do Governo apontam para 5,5% em 2024. Contudo, o Presidente da República, Filipe Nyusi, admitiu que as manifestações pós-eleitorais em curso desde Outubro podem levar à revisão destas metas caso as tensões não sejam rapidamente resolvidas.
Pressões Inflacionárias e Redução da Taxa de Juro
Enquanto a economia regista avanços, o cenário inflacionário apresenta desafios futuros. A consultora Oxford Economics prevê que a inflação média em Moçambique aumentará de 3,1% em 2024 para 4,9% em 2025, devido à desvalorização gradual do metical e à pressão sobre os preços alimentares. Apesar desta previsão, o Banco de Moçambique reduziu recentemente a taxa de juro de referência (MIMO) de 13,5% para 12,75%, justificando a medida com a consolidação de uma inflação controlada a médio prazo.
De acordo com a Oxford Economics, o banco central poderá realizar mais cortes moderados na taxa de juro no primeiro semestre de 2025, mas as crescentes pressões inflacionárias limitarão uma política monetária mais agressiva.
Riscos Políticos Ameaçam Crescimento e Investimentos
A instabilidade política e social desencadeada pelas eleições gerais de 9 de Outubro continua a preocupar investidores e agências de classificação de risco. A Fitch Ratings alertou que os conflitos podem impactar negativamente a estabilidade fiscal e o crescimento económico do País. Desde a divulgação dos resultados eleitorais, que declararam Daniel Chapo vencedor com 70,67% dos votos, manifestações e confrontos têm ocorrido, afectando o normal funcionamento da economia, especialmente na capital, Maputo.
A Fitch sublinhou que a instabilidade pode levar a desvios em relação às metas fiscais estabelecidas no programa do FMI, o que comprometeria a continuidade dos desembolsos no âmbito da Facilidade de Crédito Alargado de 456 milhões de dólares (cerca de 29,1 mil milhões de meticais). Apesar disso, a agência acredita que os principais financiadores multilaterais, como o FMI e o Banco Africano de Desenvolvimento, continuarão a apoiar o País, desde que as tensões sejam controladas.
Por outro lado, o impacto da instabilidade pode afectar projectos estratégicos, como os relacionados com o gás natural liquefeito (GNL) na bacia do Rovuma, essenciais para o crescimento económico a médio e longo prazo. A Fitch destacou que a redistribuição de recursos de segurança para lidar com os protestos em Maputo pode comprometer a segurança em Cabo Delgado, onde estão localizados os projectos de gás natural.
Perspectivas para o Encerramento do Ano
Apesar dos desafios, a semana económica evidenciou sinais de resiliência na economia moçambicana, com um desempenho sólido no sector primário e reservas internacionais em níveis confortáveis. No entanto, o futuro imediato dependerá da capacidade de o País estabilizar o cenário político e social, garantindo o avanço dos projectos estruturantes e o cumprimento das metas económicas traçadas para 2025.