Turismo, um Sector Sob Pressão
As notícias de confrontos violentos circulam rapidamente pela comunicação social internacional e prejudicam a imagem do País como destino turístico. Os empresários fazem estimativas de perdas elevadas, num cenário de incerteza que parece dificultar a recuperação da confiança.
Escrita Por: Administração |
Publicado: 3 months ago |
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Categoria: Negocios
“Os episódios recentes de instabilidade deixam uma marca difícil de apagar. Tornam desafiador persuadir os turistas de que Moçambique é um destino seguro”, começou por lamentar o presidente do pelouro de Turismo, Hotelaria e Restauração da Confederação das Associações Económicas (CTA), Muhammad Abdullah.
A imagem de Moçambique enquanto destino paradisíaco ficou manchada. Desde as praias até às reservas naturais, o País tem referências de nível mundial. No entanto, as manifestações pós-eleitorais têm projectado uma imagem agravada de insegurança além-fronteiras. Para um país que ambiciona fazer do turismo um dos sectores vitais (o turismo representa 4% do PIB e emprega 77 mil pessoas), o impacto é profundo. Enquanto os prejuízos causados pela pandemia da covid-19 faziam parte de um cenário global, estes ferem directamente a reputação internacional do País.
Cancelamentos e prejuízos
Estimativas apresentadas à E&M apontam para cerca de 10 mil reservas canceladas só na zona de Maputo, entre Outubro e Janeiro, antecipando-se perdas da ordem dos 200 milhões de meticais, de acordo com o director provincial da Cultura e Turismo de Maputo, Lugero Gemo. Em Inhambane, o director provincial de Turismo, Emídio Nhantumbo, mencionou centenas de reservas canceladas desde o final do ano passado, informando que nem todos os empreendimentos reportaram as suas situações, o que significa que os números são, provavelmente, maiores. Apesar disso, Yassin Amuji, presidente da Associação de Turismo da província, havia declarado à DW não se terem verificado variações significativas no fluxo turístico, especialmente em destinos como Vilanculos.
“A imagem de Moçambique enquanto destino paradisíaco ficou manchada. As manifestações pós-eleitorais têm projectado além-fronteiras uma imagem agravada de insegurança”
Crise nas companhias aéreas
A aviação comercial, um pilar essencial para o turismo, também está a sofrer um forte impacto. Até ao fecho desta edição da E&M, a Ethiopian Airlines não tinha disponibilizado informação sobre a dimensão do prejuízo. A situação levou à suspensão, pelo menos temporariamente, de voos desta e de outras companhias como a Turkish Airlines, TAAG, Qatar Airways e Airlink. Estas suspensões, embora justificadas pelas manifestações e instabilidade política, acontecem logo a seguir a meses de falta de divisas no País. Ao dificultar o repatriamento dos lucros, a situação pressionou algumas companhias aéreas estrangeiras como a Ethiopian Airlines e a Qatar, ao ponto de equacionarem, já na altura, a suspensão das suas operações no País. Outras ainda, como a francesa Air France, reavaliaram a intenção de voar para Moçambique. “A combinação de instabilidade política e problemas económicos cria um cenário difícil para o transporte aéreo e, consequentemente, para o turismo”, constatou Muhammad Abdullah.
Gulamhussen, Director de operações do grupo Vip em Moçambique
Incerteza e difícil recuperação
Em Inhambane, Yassin Amuji, presidente da Associação de Turismo, tenta projectar optimismo, destacando os voos directos para Vilanculos, que permitem que turistas cheguem às praias sem passar pelas zonas de protestos. Contudo, mesmo este pequeno alívio, enfrenta problemas de um mercado global cada vez mais competitivo.
Se as manifestações continuarem a ser convocadas e a tensão política persistir, o futuro do turismo em Moçambique permanecerá incerto. A percepção de que novos protestos podem eclodir desincentiva investimentos e viagens. O turismo, vital para a economia, depende da estabilidade para se reerguer, mas enfrenta um cenário onde a recuperação plena parece distante. “Moçambique, com o seu enorme potencial turístico, precisa urgentemente de acções concretas para restaurar a confiança e recuperar a posição como destino de excelência”, defende Muhammad Abdullah
“Se as manifestações continuarem a ser convocadas e a tensão política persistir, o futuro do turismo em Moçambique permanecerá incerto. A percepção de que novos protestos podem eclodir desincentiva as viagens”
Apesar do cenário, há esperança de recuperação. O presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma, acredita que o sector “pode superar a crise”, desde que haja estabilidade política e segurança. Por seu turno, o director provincial da Cultura e Turismo de Maputo, Lugero Gemo, também manifestou optimismo, afirmando que, nos dias que correm, o movimento habitual tende a regressar, o que também se poderá traduzir na recuperação do sector.
Para recuperar o turismo, o País precisa de reforçar a segurança, investir em infra-estruturas e promover a sua imagem internacionalmente. O diálogo entre o Governo e o sector privado será essencial para restaurar a confiança dos visitantes e transformar desafios em oportunidades. Incentivar o turismo interno e diversificar as ofertas também serão passos decisivos. O sucesso dependerá da capacidade de adaptação e inovação do sector.
A paralisação de actividades prejudicou os serviços ligados à aviação